quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Foi conveniente que os magos viessem adorar e venerar a Cristo?


(A Adoração dos Magos, Bartolomé Esteban)
Parece que não foi conveniente que os magos viessem adorar e venerar a Cristo:

1. Com efeito, cada rei deve receber a homenagem de seus súditos. Ora, os magos não pertenciam ao reino dos judeus. Logo, quando conheceram pela visão da estrela que tinha nascido o Rei dos Judeus, parece que não era conveniente que viessem adorá-lo.

2. Além disso, é imprudente anunciar um rei estrangeiro enquanto vive o próprio rei. Ora, Herodes reinava no reino dos judeus. Logo, os magos procederam com imprudência ao anunciar o nascimento do rei.

3. Ademais, um sinal do céu é mais seguro do que uma indicação humana. Ora, os magos vieram do Oriente à Judéia guiados por um sinal do céu. Logo, agiram sem prudência ao buscar uma indicação humana, abandonando a guia da estrela, quando perguntaram: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?”.

4. Ademais, a oferenda de dons e a homenagem da adoração são devidas só aos reis que estão reinando. Ora, os magos não encontraram Cristo revestido da dignidade real. Logo, não foi conveniente apresentar-lhe dons e render-lhe homenagem real.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, afirma Isaías: “As nações vão caminhar para a tua luz e os reis para a claridade da tua aurora” (60, 3). Ora, os que são conduzidos pela luz divina não erram. Logo, os magos não incorreram em erro ao prestar homenagem a Cristo.

Como já foi dito, os magos são as primícias dos pagãos a crerem em Cristo. Neles apareceram, numa espécie de presságio, a fé e a devoção dos pagãos vindos a Cristo de lugares remotos. Por isso, sendo a fé e a devoção dos pagãos isenta de erro por inspiração do Espírito Santo, também deve-se crer que os magos, inspirados pelo Espírito Santo, se comportaram sabiamente ao prestarem homenagem a Cristo.

Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:

1. Como diz Agostinho: “Muitos reis dos judeus nasceram e morreram sem que os magos os tivessem procurado para adorá-los. Não é, pois a um rei dos judeus como então costumavam ser, que estes estrangeiros, vindos de tão longe, e totalmente alheios a este reino, julgavam estar prestando tão grande homenagem. Mas aprenderam que o recém-nascido era tal que não podiam duvidar que, adorando-o, conseguiriam a salvação que é segundo Deus”.

2. O anúncio aos magos prefigurava a constância dos pagãos em confessar Cristo até a morte. Por isso diz Crisóstomo: “Tendo os olhos postos no rei futuro não tinham medo do rei presente. Ainda não tinham visto Cristo e já estavam preparados para morrer por ele”.

3. Como Agostinho diz: “A estrela que conduziu os magos ao lugar em que o Deus-menino se encontrava com sua mãe virgem podia conduzi-los à cidade de Belém, na qual Cristo nascera. Escondeu-se, contudo, até que os judeus dessem testemunho da cidade na qual Cristo deveria nascer”. Assim também, “confirmados com este duplo testemunho, como diz o papa Leão, buscassem com fé mais ardente aquele que era manifestado pela claridade da estrela e pela autoridade da profecia”. Segundo Agostinho: “Eles mesmos anunciam o nascimento de Cristo e perguntam pelo lugar, creem e buscam, como para significar os que caminham na fé, e desejam a visão”. Mas os judeus, que lhes indicaram o lugar do nascimento de Cristo, são semelhantes àqueles carpinteiros que construíram a arca de Noé: forneceram a outros os meios para escapar, mas eles mesmos pereceram no dilúvio. Os que procuravam, ouviram e partiram; os doutores falaram e ficaram, semelhantes às pedras miliárias, que mostram o caminho, mas não caminham”. Foi por vontade divina que os magos, quando perderam de vista a estrela, levados pelo sentido humano, se dirigiram a Jerusalém, buscando na cidade real o rei que nascera, para que o nascimento de cristo fosse anunciado publicamente em primeiro lugar em Jerusalém, segundo o que diz Isaías: “De Sião sairá a lei e de Jerusalém a palavra do senhor”. E também “para que o cuidado dos magos, vindos de tão longe, condenasse a preguiça dos judeus que estavam tão perto”.

4. Como Crisóstomo diz: “Se os magos tivessem vindo procurar um rei terrestre teriam ficado decepcionados, porque teriam enfrentado sem razão as dificuldades de um caminho tão longo”. E assim, nem o teriam adorado, nem lhe teriam oferecido presentes. “Mas, porque procuravam o rei do céu, mesmo não vendo nele nada da majestade real, o adoraram satisfeitos unicamente com o testemunho da estrela”. Viram um homem e reconheceram a Deus. E ofereceram presentes adequados à dignidade de Cristo: “Ouro, como a um grande rei; incenso, utilizado nos sacrifícios divinos, como a Deus; e mirra, com a qual são embalsamados os corpos dos mortos, indicando que iria morrer pela salvação de todos”. Assim somos ensinados, diz Gregório: “A oferecer ao Rei recém-nascido o ouro, que representa a sabedoria, resplandecendo em sua presença com a luz da sabedoria”; o incenso “com o qual expressamos a dedicação da oração, e que oferecemos a Deus quando exalamos diante de Deus o empenho das orações” e a mirra “que representa a mortificação da carne” e que a oferecemos “quando mortificamos os vícios da carne pela abstinência”.

(Suma Teológica, part. 3, quest.36, art. 8)

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