Parece que os santos que estão no céu não oram por nós:
1. Com efeito, o ato é mais meritório para quem o
pratica do que para os outros. Ora, os santos que estão no céu não merecem para
si, nem mesmo para si oram, porque já atingiram o termo. Logo, também não oram
por nós.
2. Além disso, a vontade dos anjos está
perfeitamente identificada com a de Deus, e eles não querem senão o que Ele
quer. Ora, a vontade de Deus é sempre cumprida. Logo, seria inútil os santos
orarem por nós.
3. Ademais, assim como os santos, que estão no
céu, são superiores a nós, também o são as almas do purgatório, pois não podem
mais pecar. Ora, as almas do purgatório não oram por elas mesmas, nós é
que rezamos por elas. Logo, nem os santos que estão no céu oram por nós.
4. Ademais, se os santos do céu orassem por nós, a
oração dos mais santos seria também mais eficaz. Logo, não convém pedir a
intercessão dos menos santos, mas, somente a dos mais santos.
5. Ademais, a alma de Pedro não é Pedro. Portanto,
se as almas dos santos orassem por nós enquanto estão separadas dos corpos, não
deveríamos pedir a Pedro para orar por nós, mas à sua alma. Ora, a Igreja faz o
contrário. Logo, os santos, ao menos antes da ressurreição, não oram por nós.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, lê-se nas Escrituras: “Este é Jeremias, o profeta de Deus, que muito
ora pelo povo e por toda a cidade santa” (2Mac 15, 14).
SOLUÇÃO: Escreve Jerônimo: “Errou Vigilâncio quando escreveu que enquanto
na terra vivemos, podemos orar muito uns pelos outros. Após a morte, porém, não
será ouvida a oração pelos outros de ninguém, como não foram, sobretudo as dos
mártires, que pediam a vingança do seu sangue”. Mas isso é falso.
Quanto mais perfeitos em caridade são os santos nos céus, tanto mais oram pelos
que estão na terra que podem ser auxiliados pela oração. Ademais, quanto mais
estão unidos a Deus, tanto mais serão as suas orações
atendidas. A ordenação divina está determinada de modo que a perfeição dos
superiores redunde nos inferiores, como a luz do sol ilumina o ar. Por isso, se
diz de Cristo: “Subiu por si mesmo para Deus
para interpelar por nós” (Hb 7, 25). E assim corrige Jerônimo o
texto de Vigilância: “Se os apóstolos e os
mártires, ainda no corpo, podiam orar pelos outros, quando ainda deviam
preocupar-se por eles mesmos, quanto mais o poderão após coroados, vitoriosos e
triunfantes!”.
Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se
dizer que:
1. Aos santos que estão no céu, por serem
bem-aventurados, nada lhes falta a não ser a glória do corpo pela qual oram.
Ora, ademais, por nós, pois nos falta a última perfeição da bem-aventurança. As
suas orações possuem impetração eficaz por causa dos seus méritos anteriores e
por causa da aceitação divina.
2. Os santos pedem aquilo que Deus quer que seja
feito pelas orações deles. E o pedem porque sabem que as suas orações se
cumprem segundo a vontade de Deus.
3. Os que estão no purgatório, embora sejam
superiores a nós devido à impecabilidade, são inferiores a nós quanto às penas
que sofrem. Por isso não estão em condição de orar; pelo contrário, é preciso
orar por eles.
4. Deus quer que os seres inferiores sejam
auxiliados por todos os superiores. Por isso, é conveniente orar não apenas
para os mais santos, como também para os menos santos. Se assim não fosse,
dever-se-ia recorrer só à misericórdia divina. Não obstante, às vezes acontece
que a súplica de um menos santo seja mais eficaz, ou porque implora com maior
devoção, ou porque Deus quer fazer conhecida a santidade deles.
5. Os santos, enquanto estavam na terra, mereceram
orar por nós, por isso, os invocamos com os nomes que tinham na terra e pelos
quais mais os conhecemos. Além disso, porque nos sugerem a fé na ressurreição,
como se lê no Livro do Êxodo: “Eu sou o
Deus de Abraão…” etc. (3, 6).
(Suma Teológica, II-II,
83, 11)
Também é interessante que a gente reze e procure viver a palavra de Deus.
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