sábado, 12 de janeiro de 2013

Os santos que estão no céu oram por nós?




Parece que os santos que estão no céu não oram por nós:

1. Com efeito, o ato é mais meritório para quem o pratica do que para os outros. Ora, os santos que estão no céu não merecem para si, nem mesmo para si oram, porque já atingiram o termo. Logo, também não oram por nós.

2. Além disso, a vontade dos anjos está perfeitamente identificada com a de Deus, e eles não querem senão o que Ele quer. Ora, a vontade de Deus é sempre cumprida. Logo, seria inútil os santos orarem por nós.

3. Ademais, assim como os santos, que estão no céu, são superiores a nós, também o são as almas do purgatório, pois não podem mais pecar. Ora, as almas do purgatório não oram por elas mesmas, nós é que rezamos por elas. Logo, nem os santos que estão no céu oram por nós.

4. Ademais, se os santos do céu orassem por nós, a oração dos mais santos seria também mais eficaz. Logo, não convém pedir a intercessão dos menos santos, mas, somente a dos mais santos.

5. Ademais, a alma de Pedro não é Pedro. Portanto, se as almas dos santos orassem por nós enquanto estão separadas dos corpos, não deveríamos pedir a Pedro para orar por nós, mas à sua alma. Ora, a Igreja faz o contrário. Logo, os santos, ao menos antes da ressurreição, não oram por nós.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, lê-se nas Escrituras: “Este é Jeremias, o profeta de Deus, que muito ora pelo povo e por toda a cidade santa” (2Mac 15, 14).

SOLUÇÃO: Escreve Jerônimo: “Errou Vigilâncio quando escreveu que enquanto na terra vivemos, podemos orar muito uns pelos outros. Após a morte, porém, não será ouvida a oração pelos outros de ninguém, como não foram, sobretudo as dos mártires, que pediam a vingança do seu sangue”. Mas isso é falso. Quanto mais perfeitos em caridade são os santos nos céus, tanto mais oram pelos que estão na terra que podem ser auxiliados pela oração. Ademais, quanto mais estão unidos a Deus, tanto mais serão as suas orações atendidas. A ordenação divina está determinada de modo que a perfeição dos superiores redunde nos inferiores, como a luz do sol ilumina o ar. Por isso, se diz de Cristo: “Subiu por si mesmo para Deus para interpelar por nós” (Hb 7, 25). E assim corrige Jerônimo o texto de Vigilância: “Se os apóstolos e os mártires, ainda no corpo, podiam orar pelos outros, quando ainda deviam preocupar-se por eles mesmos, quanto mais o poderão após coroados, vitoriosos e triunfantes!”.

Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:

1. Aos santos que estão no céu, por serem bem-aventurados, nada lhes falta a não ser a glória do corpo pela qual oram. Ora, ademais, por nós, pois nos falta a última perfeição da bem-aventurança. As suas orações possuem impetração eficaz por causa dos seus méritos anteriores e por causa da aceitação divina.

2. Os santos pedem aquilo que Deus quer que seja feito pelas orações deles. E o pedem porque sabem que as suas orações se cumprem segundo a vontade de Deus.

3. Os que estão no purgatório, embora sejam superiores a nós devido à impecabilidade, são inferiores a nós quanto às penas que sofrem. Por isso não estão em condição de orar; pelo contrário, é preciso orar por eles.

4. Deus quer que os seres inferiores sejam auxiliados por todos os superiores. Por isso, é conveniente orar não apenas para os mais santos, como também para os menos santos. Se assim não fosse, dever-se-ia recorrer só à misericórdia divina. Não obstante, às vezes acontece que a súplica de um menos santo seja mais eficaz, ou porque implora com maior devoção, ou porque Deus quer fazer conhecida a santidade deles.

5. Os santos, enquanto estavam na terra, mereceram orar por nós, por isso, os invocamos com os nomes que tinham na terra e pelos quais mais os conhecemos. Além disso, porque nos sugerem a fé na ressurreição, como se lê no Livro do Êxodo: “Eu sou o Deus de Abraão…” etc. (3, 6).

(Suma Teológica, II-II, 83, 11)

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