VII - BOM ENTENDIMENTO CONJUGAL
1- Na Terra, o
amor é
uma criação nunca terminada
Nesta
Terra, o amor nunca é
plenamente realizado: é uma criação, mistura
de alegrias e sofrimentos, e não pode progredir senão graças à boa vontade recíproca dos esposos.
2- Obstáculos à harmonia
Se as primeiras alegrias do amor podem dar a ilusão de amor total e definitivo, as realidades da vida em
comum fazem logo aparecer divergências de caráter e de educação, hábitos e
defeitos que dificultam a harmonia conjugal, e provam serem necessários, no mais das vezes, longos e
penosos esforços de adaptação para realizar a união das pessoas morais, e fazer passar o amor das
regiões superficiais da sensibilidade
para as profundezas da alma e da vontade.
3- O amor se
mantém
pela generosidade dos esforços
Aqueles
que desejam somente as alegrias do amor sem dele aceitar as
obrigações morais,
verão, pouco a pouco, elas desaparecerem e deixarem
no coração um gosto de amargura e insuficiência. O amor não cresce e não satisfaz as aspirações
íntimas do coração se não for o apoio dos esforços que os esposos devem fazer
quotidianamente para se corrigirem
de seus defeitos, melhor se adaptarem um a outro, se devotarem em conjunto à
sua vocação familiar.
4- Alternância de alegrias e sofrimentos
O
amor implica como que uma alternância
de alegrias e sofrimentos.
Temos disso uma primeira prova no fato de que as alegrias da união conjugal se
transformam, normalmente, num parto doloroso para
a mãe e, para o pai, na obrigação de respeitar por um tempo, pela continência, aquela que acaba de dar
um filho ao mundo. E será sempre
assim: a alegria da paternidade será seguida pelas preocupações da educação; mas as preocupações da
educação prepararão, por sua vez, toda
a elevação moral de ver crescer as qualidades e virtudes dos filhos, aos quais terá consagrado o melhor de
si. Enganam-se muito, aqueles que
crêem poder separar o amor das abnegações que o devem levar a constantemente se
ultrapassar a si próprio. Por isso importa precisar as condições graças às quais os esposos
conseguirão se amar todos os dias mais.
Para
preparar as harmonias futuras, é
preciso que o homem esteja habituado,
desde a adolescência, a respeitar a mulher e a fugir daquelas cuja ligeireza ou má conduta arrisquem
falsear seu ideal feminino; que a
jovem se aplique em conservar, em casta reserva, os encantos de seu corpo e as delicadezas de seu coração.
Quantos nunca se compreenderam no decorrer de sua vida conjugai, porque a
verdadeira concepção das relações
entre marido e esposa foi falseada durante seus anos de adolescência!...
5- Maridos, compreendam vossas esposas;
esposas compreendam
vossos maridos
A compreensão
psicológica de um sexo pelo outro é elemento essencial do bom entendimento
conjugai. O marido se deve esforçar por compreender o caráter, a natureza e as
aspirações do coração feminino, e reciprocamente. Tal compreensão mútua,
aliás, nunca está terminada, e deve se adaptar a todos os incidentes da vida
em comum. Os esposos não se regozijam no seu
relacionamento mútuo senão na medida em que se sentem compreendidos pelo seu
cônjuge.
6- Confiança e confidências
O bom entendimento não
subsiste sem a confiança, a qual implica que os esposos tenham, um para com
outro, a mais inteira franqueza. A desconfiança mútua mata o regozijo dos
sentimentos e, para a evitar, é necessário que a vida de cada um
dos esposos possa ser exposta à luz do sol. Se dissimulam os seus
procedimentos, as suas relações, o emprego do dinheiro e, em geral, aquilo
que constitui a trama da existência quotidiana, preparam
inconscientemente a separação de vida e, por conseqüência, de corações. Ainda
é preciso que a vida conjugai não suprima as liberdades e as
independências necessárias.
7- Atenções e cortesias
É
grave erro terminar, desde que casado, com as atenções e cortesias que
tanto encanto deram aos tempos de noivado. A harmonia conjugal exige que os
esposos continuem, ao longo de toda sua vida comum, os esforços
para se agradarem. As negligências, neste ponto, arriscam o aparecimento
da indiferença.
8- Não existe defeito
que não prejudique a harmonia conjugal
Não se pode esquecer nunca que não há defeito que não
prejudique o bom entendimento conjugal. A mentira,
a preguiça, a inveja, o amor próprio,
e com maior razão o egoísmo sob todas as formas, são outros tantos obstáculos à
harmonia de corações e de caracteres. Declarar ao seu
cônjuge que ele deve aceitá-lo tal como você é, é não compreender absolutamente
nada das exigências do amor. Amor sincero implica que se
mude todos os dias por amor do outro, e que haja esforço para corrigir
tudo o que no caráter arrisca prejudicar a harmonia.
9- Não
existe virtude que não lhe seja necessária
Podemos ser tentados a dizer: "O
amor não vive sem a virtude, sem todas as virtudes". O que preserva
da corrupção é a vontade sincera de perfeição. Para se ajudarem
mutuamente a bem viver, os esposos devem partilhar suas alegrias, suas
preocupações e suas penas, para se tornarem melhores, tanto para seu
próprio bem espiritual como para o de seus filhos.
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