terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Breve Tratado do Matrimônio pelo Rev. Pe. Jean Viollet - Parte VII




VII - BOM ENTENDIMENTO CONJUGAL

1- Na Terra, o amor é uma criação nunca terminada
   Nesta Terra, o amor nunca é plenamente realizado: é uma criação, mistura de alegrias e sofrimentos, e não pode progredir senão graças à boa vontade recíproca dos esposos.
2- Obstáculos à harmonia
    Se as primeiras alegrias do amor podem dar a ilusão de amor total e definitivo, as realidades da vida em comum fazem logo aparecer di­vergências de caráter e de educação, hábitos e defeitos que dificultam a harmonia conjugal, e provam serem necessários, no mais das vezes, longos e penosos esforços de adaptação para realizar a união das pes­soas morais, e fazer passar o amor das regiões superficiais da sensibili­dade para as profundezas da alma e da vontade.
3- O amor se mantém pela generosidade dos esforços
    Aqueles que desejam somente as alegrias do amor sem dele aceitar as obrigações morais, verão, pouco a pouco, elas desaparecerem e dei­xarem no coração um gosto de amargura e insuficiência. O amor não cresce e não satisfaz as aspirações íntimas do coração se não for o apoio dos esforços que os esposos devem fazer quotidianamente para se corri­girem de seus defeitos, melhor se adaptarem um a outro, se devotarem em conjunto à sua vocação familiar.
4- Alternância de alegrias e sofrimentos
    O amor implica como que uma alternância de alegrias e sofrimen­tos. Temos disso uma primeira prova no fato de que as alegrias da união conjugal se transformam, normalmente, num parto doloroso para a mãe e, para o pai, na obrigação de respeitar por um tempo, pela continência, aquela que acaba de dar um filho ao mundo. E será sem­pre assim: a alegria da paternidade será seguida pelas preocupações da educação; mas as preocupações da educação prepararão, por sua vez, toda a elevação moral de ver crescer as qualidades e virtudes dos filhos, aos quais terá consagrado o melhor de si. Enganam-se muito, aqueles que crêem poder separar o amor das abnegações que o devem levar a constantemente se ultrapassar a si próprio. Por isso importa precisar as condições graças às quais os esposos conseguirão se amar todos os dias mais.            
     Para preparar as harmonias futuras, é preciso que o homem esteja habituado, desde a adolescência, a respeitar a mulher e a fugir daquelas cuja ligeireza ou má conduta arrisquem falsear seu ideal feminino; que a jovem se aplique em conservar, em casta reserva, os encantos de seu corpo e as delicadezas de seu coração. Quantos nunca se compreen­deram no decorrer de sua vida conjugai, porque a verdadeira concep­ção das relações entre marido e esposa foi falseada durante seus anos de adolescência!...
5- Maridos, compreendam vossas esposas; esposas compreen­dam vossos maridos
  A compreensão psicológica de um sexo pelo outro é elemento es­sencial do bom entendimento conjugai. O marido se deve esforçar por compreender o caráter, a natureza e as aspirações do coração feminino, e reciprocamente. Tal compreensão mútua, aliás, nunca está termina­da, e deve se adaptar a todos os incidentes da vida em comum. Os es­posos não se regozijam no seu relacionamento mútuo senão na medida em que se sentem compreendidos pelo seu cônjuge.
6- Confiança e confidências
   O bom entendimento não subsiste sem a confiança, a qual implica que os esposos tenham, um para com outro, a mais inteira franqueza. A desconfiança mútua mata o regozijo dos sentimentos e, para a evi­tar, é necessário que a vida de cada um dos esposos possa ser exposta à luz do sol. Se dissimulam os seus procedimentos, as suas relações, o emprego do dinheiro e, em geral, aquilo que constitui a trama da existência quotidiana, preparam inconscientemente a separação de vida e, por conseqüência, de corações. Ainda é preciso que a vida conjugai não suprima as liberdades e as independências necessárias.
7- Atenções e cortesias
  É grave erro terminar, desde que casado, com as atenções e cortesias que tanto encanto deram aos tempos de noivado. A harmonia conjugal exige que os esposos continuem, ao longo de toda sua vida comum, os esforços para se agradarem. As negligências, neste ponto, arriscam o aparecimento da indiferença.
8- Não existe defeito que não prejudique a harmonia conjugal
  Não se pode esquecer nunca que não há defeito que não prejudique o bom entendimento conjugal. A mentira, a preguiça, a inveja, o amor próprio, e com maior razão o egoísmo sob todas as formas, são outros tantos obstáculos à harmonia de corações e de caracteres. Declarar ao seu cônjuge que ele deve aceitá-lo tal como você é, é não compreender absolutamente nada das exigências do amor. Amor sincero implica que se mude todos os dias por amor do outro, e que haja esforço para cor­rigir tudo o que no caráter arrisca prejudicar a harmonia.
9- Não existe virtude que não lhe seja necessária
    Podemos ser tentados a dizer: "O amor não vive sem a virtude, sem todas as virtudes". O que preserva da corrupção é a vontade sincera de perfeição. Para se ajudarem mutuamente a bem viver, os esposos devem partilhar suas alegrias, suas preocupações e suas penas, para se tornarem melhores, tanto para seu próprio bem espiritual como para o de seus filhos.




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