São Domingos de Gusmão
O Rosário, segundo a etimologia própria da palavra, é uma coroa de rosas;
encantadora coisa, que em todos os povos representa uma oferta de amor e um
sinal de alegria. Mas estas rosas não são aquelas das quais se adornam
apressadamente os ímpios, dos quais fala a Sagrada Escritura "Coroemo-nos
de rosas - exclamam eles -, antes que murchem". As flores do
rosário não se envilecem; o seu frescor é incessantemente renovado pelas mãos
dos devotos de Maria, e a diversidade das idades, dos países e das línguas dá
àquelas rosas a variedade de suas cores e de seus perfumes.
Queremos
que aumente a devoção ao Santo Rosário de Maria, devoção a que a piedade
ligou-se por tantas recordações e que se harmoniza tão bem com todas as
circunstâncias da vida doméstica, com todas as necessidades e disposições de
cada membro da família.
Rosário
dos novos esposos, que um ao lado do outro recita na aurora da nova família,
diante da vida que se abre com as suas alegres previsões mas também com os seus
mistérios e com as suas responsabilidades. É tão doce na alegria destes
primeiros dias de intimidade total colocar em tal modo esperanças e propósitos
do futuro sob a proteção de Virgem toda pura e potente, da Mãe amante e
misericordiosa, cujas alegrias, dores e glórias passam diante dos olhos da alva
devota, enquanto se seguem as dezenas de ave-marias, rememorando os exemplos da
mais santa das famílias!
Rosários
das crianças; rosário dos pequenos, que tendo entre os seus minúsculos
dedos ainda inexperientes os grãos da coroa, repetem lentamente, com aplicação
e esforço, mas também com amor, os pai-nossos e ave-marias, que a mãe
pacientemente lhes ensinou, errando, é verdade por vezes hesitem, confundem-se;
mas é tão confiante o candor de seus olhares que fixam sobre a Imagem de Maria,
daquela na qual já sabem reconhecer a sua grande Mãe do céu! Pois será o
rosário da primeira comunhão, que tem um lugar a parte entre as recordações
daquele grande dia; belo, mas não tanto quanto, por vezes devem ser. Belo
rosário, mas não apenas um vão objeto de luxo, mas pelo contrário o instrumento
que ajuda a orar e lembra, tornando presente ao pensamento: Maria.
Rosário
da jovem, já grande, alegre e serena, mas, ao mesmo tempo, séria e pensativa do
seu futuro; que confia a Maria, Virgem Imaculada, prudente e benigna, os
desejos de dedicação e o dom de si, que ela sente desabrochar no coração; ora
por aquele jovem, ainda desconhecido para ela mas conhecido por Deus, que a
Providência lhe destina, e ela queria semelhante a si cristão fervoroso e
generoso.
Este
rosário, que ama recitar aos domingos, juntamente com as suas companheiras,
devera durante a semana recitá-lo talvez entre os cuidados da casa, ao lado da
mãe, ou entre as horas de trabalho no escritório ou no campo; quando tiver um
momento para ir à humilde igreja mais próxima.
Rosário
do jovem, aprendiz, estudante, agricultor, que se prepara, trabalhando
corajosamente, para ganhar um dia o pão para si e para os seus, coroa que
ele conserva preciosamente, como uma proteção daquela pureza que quer levar
intata ao altar no dia das núpcias; rosário que recita sem respeito humano nos
momentos livres para o recolhimento e a oração; que o acompanha sob o uniforme
militar, em meio das fadigas e das lutas da guerra, que aperta uma última vez,
no dia em que a pátria talvez lhe peça o supremo sacrifício, e que os seus
companheiros de armas encontrarão comovidos entre os seus dedos frios e
sangrando.
Rosário
da mãe de família, da operária ou da camponesa; simples, sólido usado
já desde muito tempo, que ela não poderá talvez pegar senão à tarde quando, bem
cansada de sua jornada, encontrará ainda em sua fé e no seu amor a força de
recitá-lo, lutando com o sono, para todos os seus caros, por aqueles
especialmente que sabe mais expostos a perigos da alma ou do corpo que teme
tentados ou aflitos, que vê com tanta tristeza se afastarem de Deus. Rosário da
mulher do mundo, talvez mais rica, mas muitas vezes carregada de preocupações e
de angústias ainda mais pesadas.
Rosário
do pai de família, do homem trabalhador e enérgico, que jamais esquece de
trazer consigo a sua coroa, juntamente com a caneta-tinteiro e o caderninho de
notas; que, grande professor, renomado engenheiro, célebre clínico, advogado
eloqüente, genial artista, agrônomo experiente, não se envergonha de
recitá-lo com devota simplicidade nos breves momentos arrancados à tirania do
trabalho profissional, para ir retemperar a alma de cristão na paz de uma
igreja, aos pés do tabernáculo.
Rosário
dos velhos; velha vovó, que faz incansavelmente correr as contas entre os
dedos enrugados, no fundo da igreja, até quando ela para ali puder arrastar-se
com suas pernas enrijecidas, ou durante as longas horas de forçada imobilidade
sobre a cadeira, ao lado do fogão. Velha tia, que todas as suas forças
consagrou ao bem da família, e agora, aproximando-se o término de sua vida,
toda empregada em boas obras, alterna, inexaurivelmente, em sua dedicação, os
pequenos serviços que ainda pode prestar, com as numerosas dezenas de ave-marias,
que diz sem cessar, com o seu terço.
Rosário
do moribundo, nas horas extremas, como um último apoio apertado em suas
mãos trementes, enquanto ao lado os seus caros o recitam em voz baixa; rosário
que permanecerá sobre o peito dele, juntamente com o crucifixo, para atestar a
sua confiança nas misericórdias divinas e na intercessão da Virgem, da qual
estava pleno aquele coração que cessou de bater.
Rosário,
finalmente, da família inteira, recitado em comum por todos, pequenos
e grandes; que reúne à tarde, aos pés de Maria, aqueles que o trabalho do dia
tinha separado e disperso; que os reúne com os ausentes e os desaparecidos; a
recordação se reaviva em uma oração fervorosa, que consagra deste modo a
ligação que os reúne todos sob o cuidado materno da Imaculada Rainha do
Santíssimo Rosário.
Em
Lourdes, como em Pompéia, Maria quis mostrar, com inumeráveis graças, quanto
Lhe é agradável esta oração, à qual Ela convida Sua confidente Santa
Bernadette, acompanhando as ave-marias da criança, com o lento correr de seu
belo rosário, reluzente como as rosas de ouro que brilhavam sobre seus pés (1).
(1)
Discurso aos esposos, 24 de novembro e 8 de outubro, 1941.
Fonte Original: Livro Pio
XII e os problemas do mundo moderno, tradução e adaptação do Padre José
Martins, 1959.
Fonte: O Segredo do Rosário
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