Posted: 03
Mar 2011 03:00 AM PST
Por
Santo Afonso Maria de Ligório
Fidem
posside cum amico in paupertate illius, ut et in bonis illius laeteris ―
«Guarda fé ao teu amigo na sua pobreza, para que também te alegres com ele nas
suas riquezas» (Eclo 22, 28).
Sumário.
Para desagravar o Senhor ao menos um pouco dos ultrajes que lhe são feitos, os
Santos aplicavam-se nestes dias do carnaval, de modo especial, ao recolhimento,
à oração, à penitência, e multiplicavam os atos de amor, de adoração e de
louvor para com seu Bem-Amado. Procuremos imitar estes exemplos, e se mais não
pudermos fazer, visitemos muitas vezes o Santíssimo Sacramento e fiquemos
certos de que Jesus Cristo no-lo remunerará com as graças mais assinaladas.
I. Por este amigo, a quem o Espírito
Santo nos exorta a sermos fiéis no tempo da sua pobreza, podemos entender Jesus
Cristo, que especialmente nestes dias de carnaval é deixado sozinho pelos
homens ingratos e como que reduzido à extrema penúria. Se um só pecado, como
dizem as Escrituras, já desonra a Deus, o injuria e o despreza, imagina quanto
o divino Redentor deve ficar aflito neste tempo em que são cometidos milhares
de pecados de toda a espécie, por toda a condição de pessoas, e quiçá por
pessoas que lhe estão consagradas. Jesus Cristo não é mais suscetível de dor;
mas, se ainda pudesse sofrer, havia de morrer nestes dias desgraçados e havia
de morrer tantas vezes quantas são as ofensas que lhe são feitas.
É
por isso que os santos, afim de desagravarem o Senhor um pouco de tantos
ultrajes, aplicavam-se no tempo de carnaval, de modo especial, ao recolhimento,
à penitência, à oração, e multiplicavam os atos de amor, de adoração e de
louvor para com o seu Bem-Amado. No tempo de carnaval Santa Maria Madalena de
Pazzi passava as noites inteiras diante do Santíssimo Sacramento, oferecendo a
Deus o sangue de Jesus Cristo pelos pobres pecadores. O Bem-aventurado Henrique
Suso guardava um jejum rigoroso afim de expiar as intemperanças cometidas. São
Carlos Borromeu castigava o seu corpo com disciplinas e penitências
extraordinárias. São Filipe Néri convocava o povo para visitar com ele os
santuários e exercícios de devoção. O mesmo praticava São Francisco de Sales,
que, não contente com a vida mais recolhida que então levava, pregava ainda na
igreja diante de um auditório numerosíssimo. Tendo conhecimento que algumas
pessoas por ele dirigidas se relaxavam um pouco nos dias de carnaval,
repreendia-as com brandura e exortava-as à comunhão freqüente.
Numa
palavra, todos os santos, porque amaram a Jesus Cristo, esforçaram-se por
santificar o mais possível o tempo de carnaval. Meu irmão, se amas também este
Redentor amabilíssimo, imita os santos. Se não podes fazer mais, procura ao
menos ficar, mais do que em outros tempos, na presença de Jesus sacramentado,
ou bem recolhido em tua casa, aos pés de Jesus crucificado, para chorar as
muitas ofensas que lhe são feitas.
II. Ut
et in bonis illius laeteris ― «para que te alegres com ele nas suas riquezas».
O meio para adquirires um tesouro imenso de méritos e obteres do céu as graças
mais assinaladas, é seres fiel a Jesus Cristo em sua pobreza e fazeres-lhe
companhia neste tempo em que é mais abandonado pelo mundo: Fidem posside
cum amico in paupertate illius, ut et in bonis illius laeteris. Oh, como Jesus
agradece e retribui as orações e os obséquios que nestes dias de carnaval lhe
são oferecidos pelas almas suas prediletas!
Conta-se
na vida de Santa Gertrudes que certa vez ela viu num êxtase o divino Redentor
que ordenava ao Apóstolo São João escrevesse com letras de ouro os atos de
virtude feitos por ela no carnaval, afim de a recompensar com graças
especialíssimas. Foi exatamente neste mesmo tempo, enquanto Santa Catarina de
Sena estava orando e chorando os pecados que se cometiam na quinta-feira
gorda, que o Senhor a declarou sua esposa, em recompensa (como disse) dos
obséquios praticados pela Santa no tempo de tantas ofensas.
Amabilíssimo
Jesus, não é tanto para receber os vossos favores como para fazer coisa
agradável ao vosso divino Coração, que quero nestes dias unir-me às almas que
Vos amam, para Vos desagravar da ingratidão dos homens para convosco,
ingratidão essa que foi também a minha, cada vez que pequei. Em compensação de
cada ofensa que recebeis, quero oferecer-Vos todos os atos de virtude, todas as
boas obras, que fizeram ou ainda farão todos os justos, que fez Maria
Santíssima, que fizestes Vós mesmo, quando estáveis nesta terra. Entendo
renovar esta minha intenção todas as vezes que nestes dias disser: + Meu
Jesus, misericórdia[1]. ― Ó grande Mãe de Deus e minha Mãe Maria, apresentai
vós este humilde ato de desagravo a vosso divino Filho, e por amor de seu
sacratíssimo Coração obtende para a Igreja sacerdotes zelosos, que convertam
grande número de pecadores.
[1] Indulg.
de 300 dias cada vez.
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Santo
Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano:
Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive.
Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 272-274.
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